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Por que não chamar mulheres de "meninas"

  • Foto do escritor: Juliana Graminho
    Juliana Graminho
  • 26 de mai. de 2022
  • 4 min de leitura

Atualizado: 20 de mai.

E o que isso tem a ver com Comer Consciente



Hoje venho contar para você por que evito chamar mulheres adultas (em especial amigas, colegas de trabalho, e também parceiras e alunas) de "meninas".


Vejo que referir-se a nós mulheres como "meninas" é bem comum, então talvez esse meu posicionamento seja estranho para algumas pessoas. Em nosso grupo de parceiras, por exemplo, o tema veio à tona, e tivemos comentários, como: "Chamo meninas de modo carinhoso", "Eu também não me importo de ser uma eterna menina”, "Sinto-me até privilegiada ser chamada "menina" pois entendo que sou novinha ainda - hahahaha".


Então, baseada em conversas como essa, trago o porquê não uso a palavra "meninas" para me referir a mulheres, sejam elas jovens, adultas ou idosas.


É claro que o efeito da palavra "menina" vai depender de quem fala e do tom que se utiliza, e principalmente da relação que temos com essa pessoa. Então, é permeado por experiências que vivi, e no meu modo particular de ver a questão - não sendo uma verdade pronta e acabada.


Resolvi desde muitos anos deixar de me referir às mulheres usando a palavra "meninas" e vou te contar aqui porque acho que essa palavra inofensiva "meninas" pode ser danosa. Sinta-se à vontade de mandar seus comentários favoráveis ou contrários - a ideia é mesmo gerar debate construtivo e ampliarmos mutuamente nossa visão.



Em primeiro lugar chamar mulheres de "meninas", na minha opinião, remete de uma maneira sutil à sua infantilização, como que negando sua maturidade, experiência e os anos já vividos. E isso parece estar relacionado ao pavor do envelhecimento que temos enfrentado como sociedade. Prova disso são os incontáveis procedimentos estéticos e cirúrgicos para retardar a velhice (basta observar, como exemplo, as modelos e atrizes atuais de 60 anos - que aparentam ter menos de 40). É quase um "apagamento" da velhice, como se fosse algo pavoroso a ser combatido e evitado, quando na verdade é um fenômeno (embora difícil) natural.


Além disso, chamar mulheres de "meninas" denota uma tentativa de "docilizar e reprimir" as mulheres (lembro do livro "Mulheres que correm com os lobos" enquanto redijo isso, citando sua autora Clarissa Pinkola Estés - "a mulher moderna sofre pressões no sentido de ser tudo para todos... minha própria geração, cresceu numa época em que as mulheres eram infantilizadas e tratadas como propriedade... uma época em que as meninas e mulheres que vivessem apertadas em cintas, amordaçadas e contidas, eram consideradas "certas", enquanto aquelas que conseguiam fugir da coleira , eram classificadas de "erradas"). Das mulheres sempre foi esperado docilidade/fragilidade/obediência e até submissão, e chamá-las de "meninas" as convida (mesmo que de modo sub-liminar) a uma posição amena, de não-oposição e de obediência - que deveríamos prestar aos adultos quando éramos pequenas; ou, em pior hipótese, prestar aos homens quando adultas, mas que não condiz em absoluto com nossa condição atual madura e potente.



Pensemos ao contrário, como um homem se sente quando é chamado de menino? Já presenciei alguns extremamente ofendidos, afinal a posição adulta (para a maioria deles) é algo nobre a ser preservado. E aqui não me refiro, de modo algum, à posição madura como sinônimo de não-expressão da vulnerabilidade - e, sim, à maturidade enquanto autonomia, potência e postura ativa (e de confronto construtivo às vezes necessário) para alcançar seus objetivos e ocupar seu espaço.


Na minha história trabalhando no meio corporativo, ouvi colegas / chefes, na sua maioria homens, nos chamarem de "meninas" de modo a reforçar sua posição de superioridade (às vezes hierárquica, outras vezes não), buscando enfatizar a dominação. Até chefes mulheres usavam o "meninas" para subordinar, "amaciar" e convencer. Alguma vez você se sentiu diminuída pelas palavras de um(a) chefe?


Quantas vezes ouvimos, "ah! pede isso para a "menina do RH"", ou "fala com a "menina do caixa"" ou com a "menina do financeiro", etc. Na contrapartida, não é nada comum ouvirmos alguém falar o "menino do caixa" ou o "menino do financeiro". Se soa estranho quando invertemos para o gênero masculino, é porque a expressão tem conotação sexista - ou seja, ela baseia-se em uma visão que valoriza homens, e subestima mulheres. Denominar essas profissionais como a "analista de RH", "a responsável do caixa", ou a "assistente do financeiro" seria muito mais respeitoso, empoderador e exato com suas funções profissionais.


Outro ponto, é que quando criança comumente ouvimos: "você não pode participar da conversa dos adultos por que é criança/menina". Fica a questão: quanto espaço temos dado para nossas crianças (principalmente nossas meninas) expressarem suas potencialidades, inquietudes, inteligência, criatividade e eloquência? Ou temos sistematicamente, sob a justificativa de dar uma boa educação, as silenciado?



Sim, chamar mulheres de "meninas" é carinhoso, aquece o coração, nos convida a entrar em contato com nossa “criança interior”. Por outro lado, devemos lembrar que quem tem a responsabilidade de cuidar da nossa "criança interior" somos nós mesmas, é a adulta que somos que nos cuida da criança que reside em nós... afinal agora temos recursos próprios e muito repertório.


Para mim, chamar mulheres de "mulheres" é engrandecedor. Quando chamo uma amiga de "mulher", estou convidando-a para ser inteira, trazer sua agressividade positiva para a mesa, expressar sua assertividade e seu modo lutadora do bom combate. Afinal, a vida não é feita só de amenidades, a vida não é pacífica, é preciso lutar para se tornar o que se quer ser, é preciso ser assertiva para colocar limites, dizer não, exigir respeito, conquistar sonhos, satisfazer necessidades e realizar desejos. Além disso, exercer o papel de "mulher" em sua plenitude nos faz dominantes e requer nossa liderança genuína.



E o que isso tudo tem a ver com o Comer Consciente? O Programa é um caminho que conduz as "meninas" (esgotadas, passivas, que deixaram de ser donas da sua vida, que estão com autoestima abalada/devastada, que não conseguem colocar limites, não sabem dizer não, que se sentem refém das críticas alheias, e acabam descontando essas frustrações na comida) a desabrocharem enquanto "mulheres" que pela natureza são (potentes, sensíveis, líderes de si, companheiras umas das outras e assertivas). No programa nos fortalecemos mutuamente, a cada encontro, a cada palavra... e apoiamos umas às outras. Afinal, quantas vezes já comemos em excesso, por nos sentirmos menores, inferiorizadas, subestimadas, frustradas pelo modo que nos tratam? Já é hora de mudarmos isso, já é hora de ocuparmos nosso feminilidade plena, inteira, potente e madura.


Bem-vinda ao clã, Mulher!



Por Juliana Graminho Psicóloga, Idealizadora e Mentora

do Comer Consciente


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