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Por que a cultura patriarcal dificulta seu emagrecimento

  • Foto do escritor: Juliana Graminho
    Juliana Graminho
  • 3 de mai.
  • 4 min de leitura

E se o comer em excesso não fosse um simples “descontrole”, mas um modo de o corpo elaborar aquilo que, por tanto tempo, foi silenciado?


Ao longo da vida, muitos homens e mulheres aprendem — de forma sutil, mas profunda — que sentir demais é perigoso.


Para os homens sentir passa a ser sinônimo de fraqueza, a única emoção bem-vinda é a raiva… e certa truculência é até esperada deles. Já para as mulheres, a raiva precisa ser contida, a tristeza disfarçada, o desejo moderado.


Sob a lógica patriarcal, ser forte é não se abalar, não incomodar, não precisar. Mas o que é reprimido não desaparece — encontra outras vias para se expressar.


E, muitas vezes, retorna na forma do sintoma: a comida como consolo, preenchimento, protesto mudo. Neste caminho de reflexão, inspirada pelas ideias de Bell Hooks, vamos olhar para a obesidade e os episódios de compulsão alimentar como manifestações de algo muito mais profundo: uma resposta do corpo à repressão emocional e ao sofrimento psíquico cronicamente não escutado.



1. O patriarcado como sistema de opressão emocional

Bell Hooks define o patriarcado como um sistema que ensina aos meninos, desde pequenos, a reprimir seus sentimentos, a não chorar, a não demonstrar fragilidade e a acreditar que dominância, controle e insensibilidade são características masculinas desejáveis. Isso provoca ruptura emocional, dificultando o desenvolvimento de uma identidade emocional saudável.

“O patriarcado exige que os homens neguem a parte mais essencial deles: a sua capacidade de sentir.”

2. Homens aprendem que amor é fraqueza

Hooks argumenta que, nesse sistema, os homens não aprendem o que é o amor verdadeiro — porque amar exige vulnerabilidade, entrega, empatia, escuta — e tudo isso foi reprimido. Como resultado, relacionamentos tornam-se espaços de poder, competição ou retraimento emocional.


3. O impacto intergeracional e social

As mulheres também são afetadas porque, muitas vezes, são socializadas a aceitar esse modelo masculino frio e distante. Isso cria relações marcadas por sofrimento mútuo, incompreensão e abandono emocional.


4. A negação do cuidado de si

Por não poderem acessar suas emoções livremente, os homens muitas vezes negligenciam o autocuidado, inclusive físico e psíquico. Eles se afastam de práticas que envolvem auto-observação e saúde emocional, como terapia, conversas íntimas e práticas de autocuidado alimentar ou corporal.


5. Caminhos de cura

Bell Hooks propõe que a transformação da masculinidade começa pelo reconhecimento da dor emocional e pela recusa em continuar seguindo o roteiro patriarcal. Isso envolve aprender a sentir, a nomear sentimentos, a se responsabilizar emocionalmente e a redefinir o amor como prática ética e política.


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Por que a repressão emocional dificulta o emagrecimento… e agrava transtornos alimentares e obesidade


Embora o livro não trate diretamente de alimentação, os conceitos emocionais e culturais que Bell Hooks explora se conectam profundamente aos comportamentos alimentares, sobretudo entre mulheres socializadas em um contexto patriarcal. Aqui estão alguns pontos de conexão:


1. O patriarcado promove a desconexão emocional — e isso alimenta a fome emocional

A repressão emocional e a negação do cuidado de si, como descrito por hooks, criam lacunas afetivas que muitas pessoas (especialmente mulheres) tentam preencher com comida. Isso está na base da fome emocional, dos episódios de compulsão e da dificuldade em ouvir os sinais do corpo.

  • Comer torna-se um substituto para afeto, descanso, presença e acolhimento.

  • A autocrítica internalizada (“não tenho força de vontade”, “sou fraca”) é herança direta de um sistema que desvaloriza o emocional e exalta o controle rígido.


2. As mulheres se tornam “cuidadoras emocionais” dos homens — às custas de si mesmas

Na lógica patriarcal, como Hooks descreve, os homens não são ensinados a cuidar de si nem dos outros. Então, esperam que as mulheres façam isso. Isso cria um fardo emocional enorme nas mulheres: elas cuidam, acolhem, escutam — mas não são cuidadas.

  • Isso gera exaustão, ressentimento e sobrecarga.

  • Como forma de escape ou compensação, muitas mulheres comem em excesso, buscam doces ou têm dificuldade em manter rotinas saudáveis.

  • O autocuidado vira uma "culpa": é visto como egoísmo ou vaidade.


3. A cultura patriarcal impõe padrões corporais irreais para as mulheres

O patriarcado também exige das mulheres uma aparência desejável aos olhos masculinos. Isso estimula:

  • Dietas restritivas e punitivas

  • Transtornos como bulimia e anorexia

  • Desconexão do corpo como território de prazer e bem-estar

A mulher patriarcalizada vive em guerra com o corpo — tentando controlá-lo, silenciá-lo, moldá-lo. E muitas vezes, essa guerra é travada através da comida.


4. O desamparo aprendido e a crença de que “preciso de alguém para me controlar”

A lógica patriarcal também ensina que as mulheres são “emocionais demais”, “descontroladas” — e que, por isso, precisam ser guiadas, vigiadas ou reguladas por um outro (homem, médico, coach, nutricionista rígido, aplicativo de dieta).

  • Isso mina a autonomia alimentar.

  • Faz com que a mulher se sinta infantilizada ou culpada quando falha — o que alimenta o ciclo de compulsão e restrição.

  • Impede a construção de uma relação de confiança com o corpo e seus sinais.



Comer bem é um ato político e de amor-próprio


Bell Hooks nos convida a pensar que a cura individual só é possível dentro de uma transformação coletiva. Comer de forma saudável, intuitiva e amorosa exige romper com os discursos patriarcais sobre controle, vergonha, culpa e repressão emocional.

A mulher que deseja emagrecer, mas vive dominada por essas forças inconscientes, está lutando contra fantasmas culturais profundos. A saída não está em mais disciplina ou vigilância, mas na coragem de sentir, se escutar e se acolher — exatamente como Bell Hooks propõe para os homens.


Se o que você busca não é mais uma dieta, mas um caminho de reconexão com você mesma, o programa 12 Chaves para Emagrecer pode ser o seu próximo passo. Ele não prescreve cardápios — ele te convida a ampliar o olhar sobre o corpo, a fome e o cuidado. Ao longo do processo, você vai fortalecer sua autoestima, recuperar o prazer de se cuidar sem culpa e compreender como sua história emocional influencia a relação com a comida. É um percurso de autoconhecimento e saúde mental, feito para mulheres que querem leveza sem perder profundidade.



Beijo e até a próxima


Juliana Graminho

Psicóloga

Comer Consciente


Fonte: “A Vontade de Mudar” – Bell Hooks

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