Prevenção do Suicídio - Setembro Amarelo
- Juliana Graminho
- 13 de set. de 2021
- 6 min de leitura
Atualizado: 11 de abr.
O tema suicídio nunca foi simples de ser abordado. Até mesmo pronunciar a palavra “suicídio” acaba sendo difícil e evitado. Apesar disso, estudos mostram que quanto mais conseguimos falar sobre o assunto, menos incidência de casos temos. Ter informação correta sobre o que fazer, falar abertamente sobre o tema, e prestar ajuda profissional à pessoa, ainda são os fatores que mais previnem o comportamento suicida.
Em 2014, foi criado o “Setembro Amarelo” – uma campanha de prevenção ao suicídio –estabelecida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM). Esta campanha realiza ações, durante todo o mês de setembro, que buscam levar conscientização sobre o tema e orientar sobre qual o tratamento adequado dos transtornos mentais – já que estes transtornos representam 96,8% dos casos de morte por suicídio. Dentre os transtornos mentais que mais causam o suicídio está a depressão em primeiro lugar, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias. Antes disso, desde 2003, o dia 10 de setembro foi estabelecido como “Dia Mundial de Prevenção ao suicídio”, data em que ocorre um empenho e ação mundiais para evitar suicídios, com diversas atividades em todo o mundo. Todas estas ações buscam conscientizar a população, incentivando-nos a falar de forma aberta e sem tabus sobre o tema, e ajudando-nos a entender o que pode ser feito para prevenir e combater esta triste realidade.
Atualmente temos a ocorrência, por ano, de 12 mil suicídios no Brasil (1 suicídio a cada 45 minutos) e mais de um milhão no mundo. As vítimas mais frequentes infelizmente são os jovens do sexo masculino. Uma pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) demonstrou que a taxa entre adolescentes que vivem nas grandes cidades brasileiras (Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro) aumentou 24% entre 2006 e 2015. O suicídio é até três vezes maior entre jovens do sexo masculino (comparado com o sexo feminino).
A maior dificuldade de tratar o comportamento suicida é que ele não é simples de se prever, então precisamos ficar muito atentos aos sinais das pessoas que nos cercam. Se estivermos observando e cuidando uns dos outros, formaremos uma rede de atenção e proteção mútua. Esta rede é muito importante na identificação de indícios, e também, é esta rede que vai possibilitar buscar ajuda profissional no momento certo.
Tudo o que a pessoa fala deve ser levado a sério, neste caso não temos espaço para considerar como blefe ou achar que a pessoa está querendo simplesmente chamar atenção. Em alguns casos as pessoas conseguem expressar todo esse desconforto, falando frases que servem de alerta, como: que se odeia, ou que a vida não vale mais a pena, ou ainda que quer morrer ou que está cansado(a) de viver. Algumas frases indicam que ela pode estar pensando em cometer suicídio: “Eu preferia estar morto”, “Eu não posso fazer nada”, “Eu não aguento mais”, “Sou um perdedor e um peso para os outros”, “Os outros vão ser mais felizes sem mim”.
Ainda assim, nem sempre a pessoa se sente à vontade para falar o que está pensando e sentindo. Nestes casos, é importante ficarmos atentos às mudanças de comportamento, como: 1) piora dos hábitos de autocuidado (como alimentação e higiene); 2) querer ficar mais isolado(a) que o usual; 3) alterações de humor bruscas (se era quieta fica muito falante ou ao contrário); 4) automutilação; 5) aumento do uso de drogas lícitas ou ilícitas; 6) retraimento e dificuldade de se relacionar com família e amigos; 7) ansiedade ou pânico; 8) mudança importante no humor, irritabilidade, pessimismo, depressão ou apatia; 9) mudança grande nos hábitos alimentares e de sono (para mais ou para menos); 10) tentativa de suicídio anterior, 11) perda recente: morte, divórcio, separação, perda do emprego; 12) desejo súbito de organizar documentos, fazer testamento; 13) sentimentos de solidão, impotência, desesperança, desamparo; 14) falar repetidamente em morte ou suicídio; 15) alcoolismo ou abuso de drogas; 16) histórico familiar de suicídio; 17) pessoas com depressão, transtorno de ansiedade, etc..
O que fazer se eu escutar ou perceber algum sinal desses?
SE FOR SEU FAMILIAR OU AMIGO
A melhor maneira de prevenir o suicídio é ainda falar abertamente sobre o assunto. Não tenha receio de perguntar abertamente o que está acontecendo e se a pessoa está com vontade de se matar/morrer. Não julgue, nem critique ou ache que a pessoa está se vitimando. Ter algum transtorno mental (como a depressão por exemplo) não é sinal de fraqueza, quem pensa em suicídio está em sofrimento e dá sinais sim (não só ameaça). Falar sobre essas dores ajuda a compreender melhor o que está acontecendo. Ainda assim, NÃO pense em ajudar seu familiar ou amigo sozinho, achando que vai passar ou que não é tão grave. Em caso de sinais que a pessoa está pensando em ou buscando interromper a própria vida, é necessário pedir ajuda imediatamente (no mesmo dia). Se suspeitar do risco aborde o assunto com a pessoa de modo calmo, aberto e sem julgamento. Lembre-se que adoecer mentalmente é humano, não tem nada de vergonhoso ou condenável. Requer compassividade, paciência e amorosidade. Ouça com cordialidade e empatia, procure se colocar no lugar da pessoa. Ouça a pessoa com atenção para entender os sentimentos dela. Expresse respeito pelas opiniões e valores dela, mesmo se forem diferentes dos seus. Mostre preocupação, cuidado e afeto. Fale como você se sente. Tudo isso talvez não pareça, mas ajuda muito.
Ideias equivocadas que temos:
- Não é verdade que “Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir a pessoa a cometer”
- Não é verdade que “Ele está ameaçando suicídio apenas para manipular ou chamar atenção”
- Não é verdade que “quem quer se matar não avisa”
- Não é verdade que “suicídio é um ato de covardia ou coragem” (é muitas vezes um ato impulsivo de desespero)
O que você PRECISA fazer:
- Procurar um(a) profissional de saúde mental (Psicologia ou Psiquiatria).
- Dirigir-se com a pessoa até o CAPS mais próximo de sua casa (eles sempre estão de portas abertas).
- Acompanhar a pessoa na consulta e, se necessário, participar da consulta ajudando ela se abrir com a profissional.
- Muitas vezes a pessoa próxima também precisará de tratamento psicológico para conseguir segurar a barra. Não tenha receio em pedir ajuda, ela pode ser valiosa.
SE FOR VOCÊ MESMO
Busque contar o que está sentindo/planejando para alguém de confiança, com quem se sinta à vontade de conversar. Agende uma consulta com psicólogo ou psiquiatra.
Lembre-se que os transtornos mentais fazem a gente enxergar a realidade pior do que ela realmente é (ficamos com uma visão cinza da vida). Lembre-se que, com o devido tratamento, é possível sair dessa condição de sofrimento extremo. O tratamento especializado requer persistência mas, funciona. A maioria das pessoas não quer realmente acabar com a própria vida, quer eliminar a dor/angústia que está sentindo, e não consegue enxergar alternativas naquele momento. Então, o melhor a se fazer realmente é procurar ajuda. Você não precisa dar conta de tudo sozinho ou sozinha.
SE HOUVE A TENTATIVA DE SUICÍDIO
A tentativa de suicídio é considerada uma emergência médica. Em caso de você presenciar uma tentativa, a pessoa deve ser levada para os serviços da rede pública, como as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) ou o pronto-socorro dos hospitais. Caso a pessoa esteja ferida, com consciência prejudicada ou mesmo inconsciente, deve-se acionar o SAMU pelo telefone 192.
ONDE MAIS POSSO OBTER AJUDA
Além de psicólogos e médicos psiquiatras que obrigatoriamente precisam ser procurados, há também o CVV – Centro de Valorização da Vida que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que queiram e precisem conversar, sob total sigilo por telefone (ligar 188), email (https://www.cvv.org.br/e-mail/) e chat (https://www.cvv.org.br/chat/) todos os dias, disponível em vários horários – principalmente das 17 às 23 h.
INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR
O que não devo dizer a uma pessoa com depressão e/ou com risco de suicidar-se?
- Não diga que situação não é tão ruim, e que há pessoas que estão bem piores
- Não diga para olhar o lado positivo (a pessoa até gostaria mas não consegue)
- Não pergunte o que há de errado, a depressão já é o problema em si
- Não diga que não pode fazer nada por ela (ouvir, dar um abraço, acompanhar até a consulta com psiquiatra ou psicólogo, já ajuda muito - embora não dispense apoio profissional)
- Não diga que logo irá passar, depressão leva tempo para ser tratada e retomar a vida normal
- Não critique o tratamento que está sendo realizado, quem tem condições de fazer isso são os profissionais. Também não invalide as escolhas da pessoa com depressão
- Não julgue como fraqueza ou frescura, depressão é doença, sintoma e/ou síndrome
- Não pergunte por que a pessoa simplesmente não pode ser feliz. O vazio constante, a tristeza e a incapacidade de sentir prazer são os sintomas da doença. E levam tempo para melhorar.
Caminhemos juntas pela VIDA ! Que todos os nossos dias e meses sejam amarelos!
Juliana Graminho
Psicóloga - CRP 08 / 08678
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